Frick Collection, uma mansão na 5ª avenida recheada de obras clássicas

Difícil imaginar Nova York repleta de casas e mansões. Na verdade parece uma realidade tão longe que só encontrando uma casa remanescente para acreditar, ainda assim com dificuldade nessa antiga, porém não tão longínqua realidade. Uma das poucas mansões ainda existentes na 5ª avenida abriga um museu. Com seu jardim principal voltado para a 5ª avenida e o Central Park, a entrada da casa fica na rua 70.

Fachada da mansão que dá para 5ª avenida
Fachada da mansão que dá para 5ª avenida

A Frick Collection, é uma grande coleção particular de obras de arte europeia. Seu rico acervo possui obras de Bellini, Rembrandt, Vermeer, Gainsborough, Goya, Whistler e meu favorito particular William Turner. A casa, que pertencia ao Sr. Henry Clay Frick (1849–1919), um grande industrial da época foi mantida e convertida em museu em 1935 devido a grande coleção do Sr. Frick. Mesmo após sua morte o museu continuou a adquirir obras para o seu acervo.

Mansão vista na 5ª avenida
Mansão vista na 5ª avenida

Sr. Frick era um homem de classe média, nascido em uma comunidade rural na Pensilvânia filho de um fazendeiro imigrante e uma herdeira de uma destilaria de whysky. Onde trabalhou como contador para a empresa da família. Anos depois se juntou com um primo para abrir uma empresa voltada para a indústria de ferro, que crescia muito na época, juntos abriram a H.C. Frick Coke and Company. (Coke é um tipo de pedra usada para compor a mistura de ferro, eu juro que tentei achar uma tradução mas não consegui). 

Jardim secundário da mansão Frick localizado na rua 70
Jardim secundário da mansão Frick localizado na rua 70

Sr. Frick se casou com Adelaide e juntos tiveram 4 filhos mas só 2 sobreviveram à infância, Childs e Helena. Helena Clay fundou a incrível Frick Art Reference Library que fica no mesmo quarteirão da casa. A biblioteca é especializada principalmente em pinturas, desenhos, esculturas e impressões do século IV a meados do século XX de artistas europeus e americanos.

Sr. Frick começou a colecionar obras, efetivamente, nos final dos seus 40 anos. Ao se mudar para Nova York em 1905 decidiu focar na sua coleção e em 1913 começou a construção da linda mansão cravada na 5ª avenida entre as ruas 70 e 71. A compra do terreno mais a construção da casa custou algo em trono da bagatela de $5,000,000. Leve em consideração a época para realizar a grandeza desse valor.

Sr. Frick morreu em 1919 deixando em testamento sua casa, obras e móveis para dar início a galeria THE FRICK COLLECTION. Além disso deixou 15 milhões de dólares para a manutenção e novas aquisições da coleção.

 

Entrada da Frick Collection que fica na rua 70
Entrada da Frick Collection que fica na rua 70

Ao entrar na casa, quase uma ação padrão em qualquer museu ou prédio da cidade, é feita uma rápida revista da sua bolsa / mochila. Por motivos óbvios é solicitado que seus pertences sejam deixados na chapelaria, sem custo nenhum, eles guardam e te entregam um número para pegar depois. Nesse dia eu tinha feito algumas compras, então estava consideravelmente carregada, ainda assim não teve problema nenhum em deixar as sacolas na chapelaria. Na ante-sala com a chapelaria, mesa de informações e a mesa para membros é possível comprar o ingresso. Ao lado, no corredor de entrada para a coleção fica a lojinha que deixei para visitar no final do passeio.

Atravessando o corredor você passa pelo lobby de entrada onde é possível pegar um mapa ou um áudio guia (ou os dois). Aí você diz, “mas eu não quero pagar pelo guia” – é de graça, então não se assuste ao reparar que quase todo mundo na casa está atracado com um tipo de controle remoto preto. Se você não curte esse estilo de guia, ainda dá para baixar pelo google play ou pela apple store o aplicativo da Frick Collection, nele você também tem acesso ao áudio guia que você pode usar o seu fone de ouvido.

O aplicativo é bem interessante, você pode escolher por obras, ou pelas áreas da casa para saber mais. É possível marcar suas obras preferidas e até compartilhar nas mídias sociais. Ao buscar pelo nome dos artistas dá para ler uma pequena biografia de cada um, é muito bom, bem completo. Se você gostar, e se permitir escutar todas as dicas da para passar o dia na mansão. Lembrando que precisa de internet para o aplicativo funcionar.

A visita é feita toda no primeiro andar da casa, fotografias são expressamente proibidas, com exceção do jardim interno, onde além de ser uma das áreas mais lindas da casa você pode aproveitar para sentar em um banco com a trilha sonora do chafariz e admirar a estrutura de ferro maravilhosa da clarabóia.

detalhe da fonte
detalhe da fonte
jardim interno da Frick Collection, lha que maravilhosa essa clarabóia
jardim interno da Frick Collection, lha que maravilhosa essa clarabóia

Atenção as cadeiras de poltronas com cordas, elas fazem parte do acervo e não se pode sentar nelas. Eu achei curioso o lance das cordas, até que me toquei que era para sinalizar que não era para sentar. Algumas salas possuem poltronas sem essa sinalização, fique a vontade para sentar e admirar por alguns minutos alguns dos quadros.

A primeira sala que me fascinou foi a Sala Boucher. Todos os itens em exibição, até os painéis pintados das paredes, ficaram originalmente no segundo andar da casa, no Bourdoir da Sra. Frick, uma sala de estar particular, e pelo jeito ricamente decorada.
A sala Boucher foi montada após a morte da Sra. Frick, em 1931, ela é totalmente dedicada a arte francesa do século XVIII incluindo lareira e piso. Os 8 painéis das paredes que me fascinaram tanto, foram pintados por volta de 1760, no atelier de François Boucher. Achei muito interessante serem painéis permitem ser mudados de lugar, afinal a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: Imagina se tem uma infiltração!? Não tem como não pensar nisso olhando a maravilha que são essas pinturas, seria um pecado sem tamanho perdê-las.

The Boucher Room The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb
The Boucher Room  
The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb

A ante-sala da Boucher, é composta com quadros de temática religiosa, todos com molduras imponentes se destacam das paredes forradas em tecido verde com arabescos brancos. Por ser uma ante-sala não tem muitas obras, mas vale olhar da mesma forma.

Sala Fragonard foi inicialmente decorada pela esposa do Sr. Frick. Ele por sua vez encomendou obras do François Boucher, que não ficaram muito tempo em exibição, ao que parece Sr. Frick não gostou, e quanto mais tempo as olhava, menos gostava. A sala como visitamos hoje é o resultado de uma reforma feita para abrigar a compra de uma série de obras de Jean-Honoré Fragonard. Depois porcelanas, esculturas e móveis também foram adquiridos para complementar a obra prima de Fragonard. Os quadros são enormes ocupam quase toda a altura da parede, é muito agradável admirar essas pinturas, o respiro que as obras tem na parte superior com árvores ou céu fazem com que fiquemos quase na mesma altura das pessoas retratadas.

The Fragonard Room  The Frick Collection, New York, Photo: Michael Bodycomb
The Fragonard Room
The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb

Uma atenção especial para esse deslumbre em forma de relógio, que está sobre a lareira na Sala Fragonard. Quem quiser me dar de presente uma réplica estamos ai. A casa tem diversos relógios decorando as salas, mas esse especialmente me cativou de mais. Inclusive solicitei à Frick Collection uma imagem dele para compartilhar com vocês.

Mini – História sobre o relógio: Jean – Baptiste Lenaute era relojoeiro do Luis XVI e trabalhou em conjunto com Claude Michel Clodion para criar o relógio, essa obra foi feita para o arquiteto Alexandre-Théodore Brongniart, seu primeiro dono. Confesso que relógios em que posso ver as engrenagens são minha maior paixão.

A Dança das Horas, três Ninfas segurando um relógio - The Dance of Time, Three Nymphs Supporting a Clock, 1788  Claude Michel Clodion (1738–1814), sculptor, Jean-Baptiste Lepaute (1727–1802), clockmaker Terracotta 40 ¾ inches high Purcashed by The Frick Colelction through the Winthrop Kellogg Edey bequest The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb
A Dança das Horas, três Ninfas segurando um relógio – The Dance of Time, Three Nymphs Supporting a Clock, 1788
Claude Michel Clodion (1738–1814), sculptor, Jean-Baptiste
Lepaute (1727–1802), clockmaker
Terracotta – 40 ¾ inches high
Purcashed by The Frick Colelction through the Winthrop Kellogg Edey bequest
The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb

 

No corredor que margeia o jardim principal da casa, você pode admirar parte da coleção de cerâmicas do museu. Lindamente arrumadas em grandes “armários” de vidro, elas se destacam da parede com o painel forrado em tecido estampado verde escuro. Os estilos são variados, eu adorei o bule com o dragão alaranjado (claro!) e a seleção de vasos azuis ( dá para ver no final do corredor ). A luz natural que entra pelas grandes janelas de vidro dá um charme todo especial.

Vista da exposição - Porcelain, No Simple Matter: Arlene Shechet and the Arnold Collection in the Frick’s Portico Gallery | photo: Michael Bodycomb
Vista da exposição – Porcelain, No Simple Matter: Arlene
Shechet and the Arnold Collection in the Frick’s Portico
Gallery | photo: Michael Bodycomb

No final do corredor você encontra uma grande estátua da deusa Diana, muito delicada ela se apoia sobre a ponta do pé, imagino a dificuldade de esculpir uma dessas estátuas principalmente para ficar em pé em um ponto tão pequeno de equilíbrio. No arco final do corredor se você olhar para cima pode ver 2 estátuas de pica-paus empoleirados no alto da coluna. A exposição nessa galeria é temporária, ela pode trocar algumas vezes por ano. Essa que eu vi e que estará em exibição até 2 de abril de 2017 é  a No Simple Matter: Arlene Shechet and the Arnold Collection. Eu adorei!

The West Gallery The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb
Galeria Oeste – The West Gallery
The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb

A Galeria Oeste sempre foi uma galeria de arte, Sr. Frick era famoso por sua coleção e precisava de um espaço para exibi-la. A maioria dos quadros nas paredes sempre estiveram nessa sala, com exceção dos dois maravilhosos quadros de William Turner.

Eu parei por alguns minutos simplesmente extasiada na frente dos 2 grandes quadros do Turner ( sim sou íntima assim ), não me lembro de ter visto nenhum ao vivo (pelo menos do tamanho que eram esses) os quadros eram enormes e praticamente convidavam você para entrar neles, ou será que eles estavam me engolindo? Turner é sem dúvida dos meus artistas favoritos, não só pela temática do mar ( na maioria das suas obras ), como pela cores e nuances que ele cria no ambiente retratado. Atenção a legenda do quadro, olhem o tamanho dessa tela!

The Harbor of Dieppe, 1826 (?)  Joseph Mallord William Turner (1775 - 1851)   | oil on canvas (173.67 cm x 225.43 cm) Henry Clay Frick  | Photo: Michael Bodycomb
The Harbor of Dieppe, 1826 (?)
Joseph Mallord William Turner (1775 – 1851) | oil on canvas (173.67 cm x 225.43 cm)
Henry Clay Frick | Photo: Michael Bodycomb

Logo após a Galeria Oeste, aproveitei o banco do Salão oval para observar as grandes pinturas com moças de época com seus longos vestidos, muito lindas, e homens elegantemente vestidos com seus ternos, os quadros são verticais, quase em tamanho real. A sensação se sentar ali era como se eu estivesse assistindo um desfile de moda da época.
Acho muito interessante esse fenômeno que acontece nos museus lá de fora, não é a primeira vez que eu vejo. Incontáveis pessoas, levam seus cadernos para desenhar não só as obras expostas como o ambiente arquitetônico dos museus, acho sensacional.

Salão Oval - The Oval Room The Frick Collection, New York |  Photo: Michael Bodycomb
Salão Oval – The Oval Room
The Frick Collection, New York | Photo: Michael Bodycomb

Uma das coisas que mais adorei na coleção é sensação de que facilmente alguém poderia ainda estar morando ali, as salas não são entulhadas de obras sem respiro ou espaço para caminhar, e tudo muito sutil e delicado. 

É difícil conseguir descrever todas as sensações ao visitar uma coleção tão rica assim. Para mim, que nem amo arte clássica, foi fascinante.

Não poderia deixar de falar da lojinha. A da Frick Collection é de enlouquecer, diversos livros dos inúmeros artistas que fazem parte da coleção se espalham pelas estantes, além de cartões, calendários e marcadores de livros, cada um mais lindo do que o outro. A loja possui alguns livros sobre a coleção em si, inclusive um especial apenas para a sessão de porcelanas, além de um conjunto de 3 ou 4 tomos se não me engano com a coleção INTEIRA!

catálogo da coleção permanente e o lápis maciço de grafite dourado
catálogo da coleção permanente e o lápis maciço de grafite dourado que comprei para mim

Sim claro que comprei alguns souvenirs para mim, infelizmente meu lápis dourado quebrou na viagem de volta por burrice minha, mas nada que a tekbond não resolva =).
Eu fiz a burrice de comprar o livro em espanhol e ter que voltar lá para trocar, a atendente da loja foi super solícita e paciente com a minha burrada. Valeu a pena ter voltado pois não estava chovendo mais e pude fazer mais algumas fotos da parte externa da casa.

Dica do Fora da Toca

Se tiver acesso a internet baixe o aplicativo vale muito a pena! Do contrário não deixe de pegar um dos audio guias gratuitos disponíveis no lobby.

 Informações Importantes – Frick Collection

Endereço 1 East 70th Street, New York, NY 10021

Horário

Segunda- feira  Fechado

Terça a sábado de 10h às 18h ( último ingresso vendido às 17h30 )

Domingo de 11h às 17h

Primeira sexta-feira a tarde do mês de 18h às 21h ( menos em janeiro )

Ingresso

Adultos $22
Idosos (+65) $17
Estudantes $12

ATENÇÃO Crianças com menos de 10 anos não podem entrar

Primeira sexta-feira a tarde do mês ( 18h às 21h ) Gratuito

Sábados (11h às 13h) Pague o quanto deseja

Membros da coleção Gratuito

Tempo de visita

1 hora é o mínimo para admirar a coleção sem seguir o áudio guia

  • Gostaria de agradecer a Alison Peknay pela gentileza de me proporcionar essa visita. Uma coleção deslumbrante em uma casa impressionante. Impossível não se apaixonar. As fotos da parte interna da casa usadas para ilustrar o post feitas pelo fotógrafo Michael Bodycomb foram gentilmente cedidas pela Frick Collection, mais uma vez obrigada!  –

– informações históricas retiradas do site da Frick Collection e do Catálogo de obras permanentes –

4 thoughts to “Frick Collection, uma mansão na 5ª avenida recheada de obras clássicas”

    1. Super recomendo Isa! É muito maravilhoso! Eu gostaria de voltar com mais calma e chegando mais cedo para pegar o museu vazio.

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