“Se for de paz pode entrar” a Casa do Rio Vermelho – Jorge Amado e Zélia Gattai

Escrever sobre projetos dos quais participei é ainda mais legal. Hoje vou apresentar para vocês a Casa do Rio Vermelho – Jorge Amado e Zélia Gattai. Localizada na Rua Alagoinhas 43, a casa onde moraram Jorge Amado e Zélia se tornou um museu em 2014 depois de 11 anos fechada ao público. O gostoso do lugar foi o clima que foi mantido, a sensação que a qualquer momento eles podem passar por alguma das portas e dar um oi, eu me senti um pouco como na casa da minha avó.

entrada da casa
entrada da casa

A casa foi toda restaurada antes de ser tornar museu. O multi artista / cenógrafo Gringo Cardia aka (also known as) meu ex-chefe foi o responsável pela museografia e curadoria da casa e dos vídeos que contam tão ricamente a vida e curiosidades dos dois.

Sobre os ilustres moradores da casa

Jorge nasceu em uma pequena fazenda em 10 de agosto de 1912. Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Se formou em direito na Faculdade Nacional de Direito no Rio de Janeiro, militante comunista viveu exilado por um ano. Em 1945 se casou com Zélia Gattai. Fiel companheira, mulher forte e guerreira, nascida em São Paulo em 2 de julho de 1916. Sua parceria com Jorge ia muito além do papel de esposa, e mãe. Zélia era a assessora de Jorge na criação de seus livros, responsável pela revisão, digitação além de ser a primeira leitora de suas obras. Ambos viveram em exílio de 48 a 52 na Europa. Tiveram 2 filhos João e Paloma. Depois de 33 anos juntos se casaram formalmente em Salvador em 13 de maio de 1978.

Jorge escreveu 32 livros, que refletem e apresentam o universo da Bahia e sua cultura para o mundo, tendo seus livros traduzidos para 49 idiomas. Sua obras tão fascinantes foram adaptadas para cinema, teatro e televisão. Jorge morreu em 6 de agosto de 2001.

Zélia lançou seu primeiro livro, Anarquistas graças a Deus, aos 63 anos de idade ( viu, nunca é tarde para começar ) de grande repercussão e sucesso. Depois mais 16 obras foram criadas pela autora. Em 2001 entrou para Academia Brasileira de Letras, ocupando a mesma cadeira que antes fora ocupada por Jorge Amado por 40 anos, a cadeira de número 23. Morreu aos 91 anos.

vamos começar a visita
vamos começar a visita

Sobre a Casa

A casa foi comprada em 1960, com o lucro feio com a venda dos direitos da famosa obra de Jorge, “Gabriela, Cravo e Canela” para a MGM. Transcrevo aqui, porque achei fofo e delicado, e exatamente o que a casa passa, alguns trechos usados no folder da Casa do Rio Vermelho da fala de Zélia sobre a Casa da Rua Alagoinhas 43.

“ Jorge chamou os amigos para conosco estudarem o projeto feito pelo jovem Gilberbet [Chaves]. I encontro foi na casa de Mário Cravo. Estavam todos lá: Carybé, Mirabeau, Jenner Augusto e o próprio Mário. Projeto interessante de casa ampla, largos terraços, muita treliça, grades, cada para o clima da Bahia…

…As grades ficam por minha conta, disse Mário; eu me encarrego de pintar os azulejos, disse Carybé; eu pinto as portas e os basculantes de vidro falou Jenner. Por acaso, naquela noite, encontrava-se na cada de Mário, de quem era muito amiga, Lina Bo Bardi… Lina também deu seu palpite: Por que não colocam no piso das escadas e nos caminhos cacos de azulejos? Vocês podem conseguir à vontade na cerâmica do Udo. Ele tem montes de azulejos quebrados. Tudo que foi combinado nessa noite foi feito e muito mais.”

“ Em nossa casa do Rio Vermelho, casa simples como nós, chão de lajotas e telha vã, feita com a colaboração dos artistas da Bahia, Jorge montou seu quartel general”

-textos de Zélia Gattai-

um dos incontáveis cantos da casa repletos de azulejos
um dos incontáveis cantos da casa repletos de azulejos

Você entra na casa pelo jardim onde 2 gazebos foram construídos para a casa/ museu ambos com vídeos. O mais enfeitado conta com Mãe Stella explicando um pouco sobre o candomblé e a ligação de Jorge com ele. Os enfeites que adornam o gazebo além de produzirem um som super agradável quando o vento bate são lindos e remetem aos símbolos de alguns orixás.

os gazebos do jardim merecerem uma visita
os gazebos do jardim merecem uma visita

Já o segundo gazebo conta com diversos vídeos gravados com 27 familiares, amigos e pessoas importantes ligadas a Jorge e Zélia, fazendo assim uma coletânea de depoimentos sobre os dois. No jardim, entre dois bancos de azulejo, item que você encontra por toda casa, estão as cinzas dos antigos donos que eram tão apaixonados pelo local e que em testamento pediram para ficar alí. As cinzas de Jorge foram enterradas alí no dia de seu aniversário de 89 anos.

sentei ali para bater um papo com os antigos moradores da casa
sentei ali para bater um papo com os antigos moradores da casa

Na varanda um pequeno café te aguarda. Se quiser comer algo e curtir o jardim ali está sua chance. Mas atenção nada pode ser levado para dentro do museu. As únicas recomendações são essas: não tocar ou sentar nos itens originais da casa e não consumir comida e bebida dentro da casa. Filmar e fotografar está mais do que liberado.

varanda fechada e detalhe da porta de ferro de Mário Cravo
varanda fechada e detalhe da porta de ferro de Mário Cravo

Se você optar por entrar pela direita, grandes mesas de madeira com bancos te esperam com livros sobre Jorge e Zélia. Você pode consultá -los a vontade. Atrás da mesa uma gigantesca vitrine com diversas esculturas emolduram alguns vídeos que falam sobre os diversos artistas que Jorge fazia questão de chamar para ilustrar suas obras, preferencialmente baianos. Nada mais justo que valorizar o material de casa não é?

detalhes da varanda fechada
detalhes da varanda fechada
Lago dos sapos
Lago dos sapos

Eu particularmente fui seguindo reto até chegar ao lago dos sapos. Após o lago você entra na cozinha da casa, pequena e aconchegante. Mais a frente a segunda cozinha da casa maior é fartamente decorada com ingredientes e pratos típicos da Bahia. Paixões de Jorge. No vídeo da sala você pode escolher qual receita a cozinheira Dadá, dona do restaurante de Jorge e Zélia tanto frequentavam e adoravam, vai te ensinar além de enviar a receita por email.

a super cozinha da Dadá
a super cozinha da Dadá
só escolher e enviar por email a receita
só escolher e enviar por email a receita

Na sala de leitura no corredor, saindo da cozinha que retorna ao lago dos sapos, 33 personalidades leem trechos dos livros de Jorge. Ao lado a aconchegante biblioteca da casa nos convida a sentar um pouco e apreciar suas prateleiras repletas de títulos.

biblioteca
biblioteca

A sala com as cartas é emocionante. Um enorme gaveteiro de madeira abriga várias cartas e pequenos objetos pertencentes aos antigos, porém presentes, moradores da casa. As cartas datam de 48 até 67, os conteúdos das correspondências são variados.

as várias cartas trocadas entre Zélia e Jorge
as várias cartas trocadas entre Zélia e Jorge

No quarto dos dois, projeções mapeadas colorem as paredes e a cama, ilustrando passagens dos livros relacionadas a amor. Afinal esse elemento se repete em suas obras e tem tamanha importância que se torna praticamente um personagem a parte.

projeções no quarto do casal
projeções no quarto do casal

A sala da casa abriga a maior quantidade de objetos originais. Até a máquina de escrever de Jorge se encontra na mesa. No quarto da sala, várias camisas de Jorge estão expostas na vitrine, enquanto o vídeo conta sobre os incontáveis amigos que ele e Zélia fizeram durante a  vida. A visita ao museu é uma viagem no tempo, tanto pelos objetos originais quanto pelos ricos vídeos que contam suas histórias.

sala da casa
sala da casa
a máquina ainda conservada, e as camisas de Jorge
a máquina ainda conservada, e as camisas de Jorge

Não vou contar detalhes de todos os vídeos para não estragar a visita, mas garanto que é um lugar que merece ser visitado com calma quando em Salvador. Por tudo que representa e pela história contida não só na casa com nas obras dos dois. Antes de ir embora não deixe de fazer uma oferenda ao Exú do jardim, o mais humano dos orixás protege que o trata bem, e quem o trata mal ou o despreza…bom…ai é por conta dele.

não deixe de fazer a oferenda pro Exú
não deixe de fazer a oferenda pro Exú

Claro que eu não poderia deixar de falar da loja de lembrancinhas. EU NÃO RESISTO! A loja é repleta de lembrancinhas que cabem em todos os bolsos. Achei os preços bem justos. Um dos itens mais lindos é o prato estampado com pintura do Carybé, me cocei para não comprar. Outro queridinho de vendas (fofoca das internas) é o azulejo “se for de paz pode entrar”, com diversas cores de fundo e moldura é difícil não se apaixonar, inclusive comprei um para mim.

LOJINHAAAAAAA
LOJINHAAAAAAA

Dica do Fora da Toca – Casa do Rio Vermelho

Vá com calma para curtir o jardim e assistir o vídeo sobre Jorge Amado e o Candomblé. É muito legal.
Não deixe de fazer uma oferenda para o exú no jardim, ele protege as pessoas que o tratam bem.

Informações importantes – Casa do Rio Vermelho

Horário  terça a domingo de 10h às 17h
Ingresso  R$ 20 inteira | R$ 10 meia | Quarta feira gratuíto
Endereço   R. Alagoinhas, 33 – Rio Vermelho, Salvador – BA

– informações históricas Fundação Jorge Amado e folder da Casa do Rio Vermelho –

2 thoughts to ““Se for de paz pode entrar” a Casa do Rio Vermelho – Jorge Amado e Zélia Gattai”

    1. Oi Francesca, eles (Zélia e Jorge) compraram a casa em 1960. Ao que parece, a casa anterior, a original, foi praticamente toda colocada abaixo dando origem a casa atual. Vou dar uma olhada no livro que tenho em casa para ver se encontro a resposta da sua pergunta.
      Continue nos seguindo =)

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