Um dos pontos turísticos mais visitados de Niterói. Considerada a 7 maravilha da cidade a Fortaleza de Santa Cruz da Barra foi construída em 1555, ainda de forma muito simples, quase improvisada apenas com 2 canhões pelo francês por Nicolau Durand de Villegaignon. Depois de se estruturar se tornou o principal ponto de defesa da Baía de Guanabara.
A visita começa na frente da fortaleza pontualmente na hora marcada. Como praticamente todo o percurso é feito a céu aberto, eles oferecem sombrinhas aos visitantes. Achei a iniciativa muito simpática além de uma mão na roda para quem vai despreparado ou é surpreendido pelo sol.
A primeira parada da visita é em uma placa com um resumão da história da fortaleza, fomos alertados pelo guia que uma das datas está errada, a fortaleza se torna Fortaleza da Santa Cruz da Barra em 1612 e não em 1632 como está gravado. Em outra placa mais abaixo é possível ver o símbolo da FEB ( forças expedicionárias brasileiras ) a famosa cobra fumando surgiu da descrença dos brasileiros, que diziam ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.
O Brasil não só entrou na segunda guerra, como foi de grande importância e a bravura de seus soldados ressaltada. Após o episódio a FEB adotou como lema “a cobra vai fumar”, até Walt Disney na época da II guerra ilustrou o lema a convite do jornal O Globo.
Um detalhe bem charmoso da fortaleza é seu relógio de sol que data aproximadamente de 1820, do lado direito se vê as horas da manhã e a esquerda as horas da tarde. Na hora da foto já era quase meio dia por isso a sombra mal aparece.
A Fortaleza de Santa Cruz também é conhecida hoje em dia pelos casamentos realizados lá, imagina casar com esse plano de fundo. Falando em casamento não podemos deixar de falar da Capela de Santa Bárbara. Sua imagem que mede 1,73m é toda feita em madeira e adornada com pedras semi preciosas.
A história que contam sobre a bela estátua é que ela não estava destinada a fortaleza mas sim ao Forte Santa Cruz no centro da cidade do Rio, devido ao nome similar a imagem da Santa acabou indo sem querer parar em Niterói. Tiveram inúmeras tentativas de levar a santa para o Rio mas toda vez que iam levá-la o mar ficava revolto e isso acabou sendo interpretado como um desejo da santa, que acabou ficando na fortaleza.
A capela ainda guarda uma curiosidade, talvez a origem do termo “um olho no padre o outro missa”, quando todos os membros da fortaleza iam a missa, quem ficava encarregado de observar a entrada da baía era o padre, que tinha uma janela estratégica na altura do altar. Sendo assim ao sinal de qualquer perigo ele poderia acenar e avisar aos soldados para retornarem aos seus postos. A Capela de Santa Bárbara é de arquitetura sacra do período jesuítico, foi erguida em 1763, alvejada durante a revolta da esquadra brasileira e foi restaurada como a vemos hoje em 1995.
Na parede interna da capela, é possível ver alguns túmulos. Reza a lenda que a jovem Iracema, filha do capitão Potyguara de Macedo, se apaixonou por um cabo, impedida de viver seu romance, ela se jogou ao mar em 18 de dezembro 1906. Na parede também está enterrada sua melhor amiga Laís.
A estátua situada no Jardim é do Marechal Mallet, nascido em Dunquerque na França. Na batalha do Tuiuti suas tropas foram chamadas de “artilharia revólver” devido a sua velocidade e precisão. Graças a sua criatividade de coragem a vitória foi alcançada na batalha, sua frase célebre que ficou conhecida foi “Eles que venham. Por aqui não passarão.” Confiante não é mesmo?
Meu único forte de referência até então era o de Copacabana, e achei muito interessante a diferença na forma como os canhões na murada da Fortaleza de Santa Cruz se moviam. O trilho no chão permitia uma boa maleabilidade dos ângulos da artilharia.
Detalhes da Fortaleza
O piso de cantareira datado do século XIX que cobre praticamente toda a fortaleza foi colocado pelos soldados que lá trabalhavam. O lindo e delicado farol da fortaleza, que sinaliza aos navegantes para evitar naufrágios, data do século XVIII. Já o mastro pintado de verde e amarelo, é feito de Pau Brasil e mede 22m de altura.
A entrada da Baía de Guanabara é guardada por um complexo de fortes formado pelo Forte São João ( Urca ), Forte Tamandaré da Laje ( Urca ), Forte São Luís ( Niterói ), Forte do Pico ( Niterói ), Forte Gragoatá ( Niterói ), Forte do Imbuí ( Niterói ), Forte Barão do Rio Branco ( Niterói ) e o Forte do Leme. Meu plano é visitar todos eles para fazer um post com um circuito de fortes pelo Rio.
Uma impressionante bateria de canhões
Construído em 1696 o hornaveque ou obra corna, de formato em “V” era estratégico, seu formato permitia praticamente todos os canhões serem comandados de um ponto só. Para comandar os que faltavam o encarregado só precisava andar até o fim da seta, que tinha visão dos outros canhões.
O detalhe curioso é que apenas os primeiros canhões possuem seteira, um buraquinho na murada para a pessoa enxergar, isso porque caso o navio invasor passasse daquele ponto a ordem era afundar. Sem mais tiros de aviso. Acho que esse foi um dos lugares que mais gostei na visita, não só pela inteligência da arquitetura mas pela estética gráfica criada pelo alinhamento dos canhões e arcos de pedra.
Tiros e embates da Fortaleza de Santa Cruz
Não vou citar TODAS as participações da fortaleza, mas aquelas que mais me marcaram.
Em julho de 1922, a Fortaleza de Santa Cruz abriu fogo contra o Forte de Copacabana, durante as revoltas do Tenentismo. Eu que não entendo nada de canhão, achei um tiro ousado levando em consideração a distância entre os dois fortes, dá uma olhada na imagem. Mas como a fortaleza está no ponto extremo mais próximo ao Rio (1,5km) e pelo que eu li um tiro de canhão cobre mais ou menos 11km sem dificuldade deve ser bem possível mesmo, só não consegui descobrir se acertou ou não, se alguém souber me fala para eu atualizar.
Em 1955 a Fortaleza de Santa Cruz efetua seu último disparo contra o cruzador Almirante Tamandaré, tiro esse que não pegou na embarcação. A última batalha ocorrida na Baía de Guanabara se deve às eleições de 1955 quando JK foi eleito, e Carlos Luz parte em direção a SP em busca de apoio de Jânio Quadros para se manter no poder.
Pode ser piada de Carioca mas sem dúvida uma das coisa mais lindas de Niterói e a vista do Rio de Janeiro, em especial na Fortaleza de Santa Cruz, o visual é de cair o queixo, sem dúvida um ângulo privilegiado.
Celas, corsários, prisioneiros ilustres e uma fuga histórica
Nos tempos antigos a fortaleza foi usada como prisão de piratas e corsários. Ainda é possível visitar as celas de solitária, um buraco, escuro de teto baixo e abaulado que antigamente tinha uma porta. Ali os prisioneiros ficavam a base de pão e água no completo breu, e depois de uns 15 dias eram levados para o banho de sol, que causavam um choque na vista, dizem que até provocava cegueira, outros dizem que era algo momentâneo.
Na lista de prisioneiros ilustres que passaram pela fortaleza estão: Giuseppe Garibaldi, Bento Gonçalves , Pedro Ivo Veloso da Silveira, o primeiro presidente Uruguaio Fructuoso Rivera, Euclides da Cunha, Alcides Teixeira, Plínio Salgado, Luís Carlos Prestes e o general Lott . Esses prisioneiros não ficavam nas celas comuns, mas em algum quarto da construção. Se alguém escapou? O Capitão Juarez Távora, aproveitou de seus privilégios de capitão para armar uma fuga, devido a sua patente ele podia pescar nos paredões da fortaleza, e assim conseguiu escapar com Estillac Leal e Alcides T. de Araújo uma fuga através de uma corda.
A última parada da visita são as celas, construídas no século XVII, que devido o terreno inclinado, tem tamanhos diferentes e passam a sensação de irem diminuindo conforme a punição aumentava. Mas nos foi dito que era devido a rampa onde foram construídas. Uma das punições pelas quais os prisioneiros passavam era dar 6 voltas na fortaleza com 26 kg de fuzis nas costas, pensa, calor + peso + uma fortaleza enorme. Um dos lugares que não visitamos mas é famoso na fortaleza é a Cova da Onça, é conhecido por ter sido um lugar de torturas, com uma saída para o mar onde corpos dos prisioneiros mortos eram jogados.
De frente a celas é possível ver a cisterna que data de 1738, e foi de grande ajuda aos que ali dependiam da água. No final da visita o guia recitou um soneto:
“De pedra em pedra se fez a história,
complexo de formas que a todos seduz,
relicário profundo de nossa memória,
traduzido nas muralhas de Santa Cruz,
ícone soberano da Guanabara vigilante inconteste de uma nação,
traz consigo a lembrança mais cara,
presente na alma de cada canhão,
Guardiã do Estado, sentinela no passado,
trabalho silente, cultura no presente
um sonho seguro, tradição no futuro,
sentença perfeita, aqui se alistou
verdade tão certa, a tropa adotou,
Sentinela Alerta, Alerta Estou!”
“Sentinela Alerta, Alerta Estou!” – é o lema dos soldados da Fortaleza de Santa Cruz. Na entrada da fortaleza é possível observar a estátua de um soldado luso-brasileiro, “Sentinela Alerta”, com uniforme histórico do século XVIII feita em homenagem aos 400 anos da Fortaleza de Santa Cruz da Barra. Homenagem essa prestada pelo Clube Português e o Centro da Comunidade Luso Brasileira ao Exército Brasileiro
Vale a pena visitar a Fortaleza de Santa Cruz?
Sem dúvida, não só pela sua vista mas como também pela sua história. A visita é bem interessante, e pelo que reparei no dia agrada a todas as faixas etárias. Infelizmente nem todas as áreas da fortaleza estão abertas a visita mas ainda assim é um passeio super interessante.
Como chegar a Fortaleza de Santa Cruz
A forma mais recomendada é ir de carro, o lugar não é de fácil acesso por transporte público ( mesmo tendo essa opção ) além de ser bem longe. Saindo do Rio a forma mais rápida é pegar a ponte Rio Niterói. O pedágio atualmente custa R$4,30 (2018) e você só paga na ida.
Como chegar a Fortaleza de Santa Cruz de transporte público
50% transporte público
Se você não tiver carro, e estiver indo do Rio pode pegar a barca na Praça XV e saltar na estação Araribóia. O percurso leva aproximadamente 20min, e custa R$6,10 ou R$5,15 para quem tem bilhete único. Chegando em niterói você pode pegar um Uber / Taxi / 99 ou o que for do seu agrado até a fortaleza, pela cotação agora de novembro sem tarifa dinâmica dá uns 26/35 reais UBER ou 99 Pop que dá uns 23 reais.
(valores estimados no dia em que o post foi escrito através dos aplicativos sem tarifa dinâmica, em novembro de 2018).
100% transporte público
Apesar que quase não acreditar que um ônibus passa pelo sinuoso caminho até a fortaleza, nos foi assegurado que o ônibus sobe sim. Caso deseje ir 100% de transporte público, após chegar a Niterói, pegue o ônibus da linha 33 – Viação Miramar que sai do terminal rodoviário de Niterói, Terminal João Goulart – Plataforma 3. O terminal fica a 400 metros da Praça Araribóia. Para mais informações sobre a linha 33, e seus horários confira o site da viação Miramar. Confirme se o ônibus vai até a fortaleza, alguns vão apenas até Jurujuba.
Visita a Fortaleza de Santa Cruz – Dica do Fora da Toca
Não deixe de levar um documento de identidade, sua entrada na fortaleza só será permitida com ele.
Se for um dia de sol ou mormaço, passe filtro pois como eu disse boa parte do passeio é a céu aberto e o sol não perdoa. Se ainda sentir que o sol está castigando pergunte ao guia sobre as sombrinhas para empréstimo, elas ficam bem na entrada da fortaleza.
O espaço tem uma mini cantina com bebidas e salgados, além de uma pequena loja de lembrancinhas.
Visita a Fortaleza de Santa Cruz – Informações
Horário terça à domingo, as visitas acontecem de hora em hora de 9h às 16h (última entrada)
Duração da visita 45min a 1h
Preço
R$ 6,00 – Inteira (de 22 a 59 anos de idade)
R$ 3,00 – Meia entrada (pessoas até 21 anos, estudantes com carteirinha estudantil, militares – e familiares diretos – da Marinha, da Aeronáutica, da Polícia Militar e dos Bombeiros);
Isentos – Crianças até 12 anos, Idosos a partir de 60 anos, Militares do Exército e seus familiares diretos; Pessoas com necessidades especiais; Estudantes e Professores da Rede Pública de Ensino (mediante Ofício da Diretora para a FSCB) e Antigos Combatentes da 2ª Guerra Mundial (Veteranos da FEB e do Batalhão de Paz).
-mais informações práticas você encontra no site oficial –
Linda dica e local, Júlia. Eu achei o máximo a dica das sombrinhas, aqui em Leuven poderiam aplicar a mesma ideia, mas ao invés de sombrinhas poderiam dar guarda-chuvas. 😉
Eu achei muito simpática a ideia, ali é um descampado com sol rachando não tem MESMO onde se esconder do sol. hehehe olha Leuven só teve sol para mim, mas e você diz eu concordo que uns guarda-chuvas seriam legais, mais prático que capas, e ainda podiam tem a estampa do logo da cidade para divulgar os passeios