Escondido em meio aos prédios na agitada Rua das Laranjeiras o Largo do Boticário transborda tranquilidade em contraste com os seus arredores. O ar extremamente bucólico se mescla com o abandono, e deterioração dos prédios. Ainda assim, meio abandonado meio esquecido, o Largo do Boticário é muito procurado para ensaios fotográficos e até mesmo eventos.
A casa 32, a única reformada até agora no largo, abriga um lugar para eventos e arte, dividido em 3 áreas, Espaço Machado de Assis, Espaço Redentor e o Espaço Burle Marx, eles oferecem uma infra-estrutura aparentemente bem legal. Confira mais no site deles, eu tentei entrar em contato com eles para conhecer o espaço mas não me retornaram até hoje.
A história do Largo do Boticário
Como o estilo dos prédios mesmo remetem, a história do largo vem de muitos anos atrás. Joaquim Luís da Silva Souto, um famoso boticário da época, um farmacêutico, decidiu investir seu dinheiro comprando terrenos no Cosme Velho e se mudou para lá em 1831. Devido a profissão de Joaquim o largo acabou ficando conhecido como Largo do Boticário.
Mesmo depois de diversas personalidades terem passado por essas casas erguidas no final do séc XIX, o nome que ficou foi o Largo do Boticário. O padrinho de Machado de Assis, o marechal Joaquim Alberto de Souza Silveira, viveu por lá em 1846.
As primeiras mudanças no largo aconteceram durante o mandato do prefeito Antonio Prado, quando o obsoleto chão de terra e o calçamento pé-de-moleque original foram trocados pelas atuais lajes de pedra capistrana. As fachadas das casas como conhecemos hoje, só foi feita por volta de 1920, quando Edmundo Bittencourt, fundador do jornal Correio da Manhã comprou o terreno e reformou as casas originais que eram térreas para casas de 2 a 3 andares em estilo neocolonial. Muitos dos materiais usados nessa reforma vieram das demolições que aconteciam no centro do Rio para as obras de modernização da cidade.
O estilo neocolonial continuou a ser usado nas casas durante as décadas de 30 e 40 por Rodolfo da Siqueira, que era arquiteto amador e viveu no largo entre 1928 e 1941, e por Sylvia de Arruda Botelho Bittencourt e seu marido. Pelo que li pesquisando para o post, algumas das casas, na década de 40, foram reformadas pelo famoso arquiteto Lucio Costa para ficarem ainda mais com cara do estilo neocolonial. Por exemplo a casa amarela ganhou a sua sacada.
Um detalhes curioso do Largo do Boticário é que no beco pelo qual você entra ainda da para ver um trecho do rio Carioca, rio esse que hoje em dia está totalmente encanado e escondido embaixo do asfalto.
Se você descer a Rua das Laranjeiras até o ponto final dos ônibus, ali poderá ver outra parte do Rio Carioca passando, acredito eu que esses dois pontos seguem um dos poucos lugares onde se pode vê-lo. Lembro de ter ido lá com o colégio quando aprendia sobre a história da cidade.
Constrangedor pensar que um rio com importância histórica como esse, que foi responsável pelo abastecimento de água doce para a cidade desde o começo do seu desenvolvimento, esteja tão mal conservado.
Largo do Boticário nas telonas
Lá por volta de 1970, o Largo do Boticário foi um dos cenários utilizados para o filme 007 contra o foguete da morte, aquele com a famosa cena de luta nos bondinhos do Pão de Açúcar. Tem o link aqui para ver a cena no largo, estava tudo tão bem restauradinho…
A recuperação do Largo do Boticário
Agora em 2018 finalmente saiu uma lei que permite os prédio serem recuperados. Meses depois dessa 5 das 6 casas do Largo do Boticário foram vendidas a Accorhotels. Uma rede hoteleira que pretende transformar o lugar em um hostel.
“Segundo Marcus Monteiro, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), a empresa comprometeu-se em realizar a restauração completa do casario, tombado pelo estado em 1987, respeitando as características do projeto original.” (…) “ O acordo prevê que os novos donos publiquem um livro sobre a história do Largo do Boticário, contando a história do conjunto desde a construção até os dias de hoje.” ( … ) “Estima-se que a rede invista R$ 10 milhões para a compra do casario, mais R$ 50 milhões para o seu restauro. Procurada, a rede Accor ainda não se pronunciou a respeito.” – O Globo, 22/05/2018
Pergunta se eu já quero o livro? Tomara que tenham muitas fotos históricas da época em que o Largo do Boticário ainda era novinho. Enquanto a reforma não vem a gente espera… assim que estiver tudo arrumadinho vou voltar lá para registrar o antes e depois. Estou me controlando para não postar uma penca de fotos por que é tanto detalhe lindo que fica difícil não querer compartilhar.
Como chegar ao Largo do Boticário?
Chegar ao largo é simples, você pode pegar uma das linhas que passam pelo Cosme Velho / corcovado como o 584, ou 583 ( existem outras!! ). Se for de metro, salte no Largo do Machado e pegue a linha de ônibus que conecta com o Cosme Velho.
O que visitar por perto?
Do outro lado da rua é possível ver o Solar dos Abacaxis, um prédio neoclássio que como o nome mesmo diz, tem abacaxis em suas varandas, bom, tinha…essa vez que passei pela frente reparei que não tem um pra contar história, dizem ter se tornado uma instituição cultural que abriga eventos ligados a arte, mas a fachada conta outra história…ao meu ver ele anda meio abandonado.
Descendo a Rua das Laranjeiras você chega ao mundialmente conhecido o Trem do Corcovado, se quiser visitar lembre-se que para evitar as filas gigantescas que se formavam nos arredores hoje em dia os ingressos são com hora marcada e devem ser comprados com antecedência pelo site.
Em frente ao trem do Corcovado você pode visitar a Igreja de São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis, ou como dizia a comadre da minha mãe o “Glorioso”. Quer conhecer um pouco mais sobre essa igreja? Clica aqui que eu conto!
Ainda descendo a Rua das Laranjeiras temos o Memorial da Pediatria, museu com um jardim lindo, mas que só funciona durante a semana, ainda não fui, mas vou colocar na lista para contar depois.
Se quiserem ler um texto mais detalhado, sobre quem morou no Largo, e suas várias reformas arquitetônicas, confere esse texto do Estadão que foi muito rico e esclarecedor para eu escrever o meu post.